terça-feira, 13 de setembro de 2011

FREGUESIA DE MALVEIRA




REGIÃO                   LISBOA
SUB REGIÃO            GRANDE LISBOA
DISTRITO                 LISBOA
CIDADE                               MAFRA
FREGUESIA                     MALVEIRA




A escassez de informação não permite avaliar com precisão a origem da Malveira mas, considerando alguns elementos disponíveis, é legítimo presumir (!) que seja nos primórdios da portugalidade.


Em meados do século XVIII foram encontrados, em escavações feitas em zona geográfica do actual concelho de Mafra, cemitérios e outros indícios da presença dos Romanos neste território. Na Malveira, “…em terra de lavradio denominada o Portancho, junto à estrada distrital 85-A, foi encontrada uma moeda romana…”



O conhecimento histórico de terem os romanos povoado a península ibérica e o aparecimento de cemitérios e moedas romanas em achado arqueológico nesta zona geográfica, pressupõe a sua provável vivência neste território e consequente constatação de ter sido a, hoje, Malveira, habitada vários séculos atrás, mesmo antes do início da portugalidade.

Mas outras moedas de origem diferente foram encontradas na mesma zona geográfica, fortalecendo a convicção de ser este um espaço de habitação em continuidade.

Entre elas, o autor da obra de pesquisa histórica, ORIGENS DAS REGIÕES, senhor VALDÊZ – que viveu na Malveira, bem como seus descendentes – realizada ainda no século XIX (previsivelmente concluída no ano de 1896), possuía três encontradas “em terras da Malveira” sendo uma delas a moeda romana atrás referida e as outras duas, do período monárquico, no trecho seguinte:
Seu nome... Malveira
Para concretizar o cerco e conquista de Lisboa em Outubro de 1147, D. Afonso Henriques contou com fiéis colaboradores aos quais, como recompensa, distribuiu territórios. Entre estes encontrava-se D. Guilherme de Licorne e seu irmão D. Roberto de Licorne. Após o falecimento do irmão, que não deixou descendência, D. Roberto herdou o domínio senhorial dos seus territórios que transitariam, por herança, para os seus descendentes…



Entre estes, encontrava-se D. Catarina Domingues, irmã de Vicente Domingues Franco, ambos filhos de Domingos Gonçalves Franco, alcaide-mor da vila de Atouguia e neto de D. Roberto de Licorne.
Do casamento de D. Catarina com João Froes, descendente da família real do reino de Leão resultou o nascimento de cinco filhos, Joanne, Domingos, Clara, Catharina e Gracia.

D. Gracia, nascida em Torres Vedras era uma mulher de rara beleza por quem D. Dinis se apaixonou e de quem teve um filho, Pedro Affonso, a quem seu pai atribuiu o título de Conde de Barcelos e importante cargo no reino. Deste amoroso relacionamento beneficiou D. Grácia de muitas e importantes mercês que contribuíram para o seu enorme pecúlio. 
Parte significativa desse pecúlio viria a pertencer, por herança, a seu sobrinho Vicente Annes Froes (filho de seu irmão Joanne) prior de Santa Maria de Cheleiros e capelão de seu primo D. Pedro conde de Barcelos.
Do vasto património que possuía, Vicente Annes Froes, legou parte importante à instituição da capela de S. Silvestre na igreja paroquial de S. Miguel de Alcainça onde, tal como seu pai, seria sepultado. Entre esses haveres encontravam-se os “Casaes da Costa da Malveira”, denominação de origem de MALVEIRA.
Assim se entende a permanência da Malveira como parte da freguesia de S. Miguel de Alcainça quando esta foi instituída na organização administrativa do país.

Estando a Malveira situada, geograficamente, num local privilegiado ficou, naturalmente, no centro da estrada nacional construída entre Lisboa e Torres Vedras e ponto de ligação desta com a comarca de Mafra. Posteriormente, com a criação da linha de caminhos de ferro do Oeste, tornou-se a estação da Malveira um ponto de referência desta linha.

A posição central da Malveira mostrou-se atractiva para os agricultores e criadores de gado comercializarem as suas produções que, no fim, eram elemento importante na alimentação da população da capital tornando-se, por isso, conhecida como capital da região saloia.

Como consequência D. Maria I viria a autorizar, por provisão de 14 de Dezembro de 1782 a realização da feira anual da Malveira que passaria, posteriormente a realizar-se também, semanalmente, à quinta-feira.
O êxito da feira da Malveira despertaria o despeito de terras ribatejanas que pretendiam a transferência da feira para uma localidade da sua região mas o nível atingido na Malveira viria a impedir as autoridades do reino de validarem tal pretensão.
Também a nível do concelho de Mafra se verificaram desigualdades de tratamento que prejudicariam a Malveira e, consequentemente, a freguesia de S. Miguel de Alcainça à qual a Malveira pertenceu até 1923, ano em que, pelo Dec.Lei nº 1427 de 28 de Maio seria elevada a freguesia.







A história de uma tradição
Estávamos em pleno reinado de Dom Pedro I, que governou entre 1357 e 1367, quando o Prior de Santa Maria de Cheleiros, Vicente Annes Fróis, faz referência ao Casal da Malveira no seu testamento, em 1363.
No livro “Coisas Velhas de Velhos Tempos”, Amândio Quinto, um malveirense profundo conhecedor da história da vila, menciona que este é o documento mais antigo que se conhece acerca da história da Malveira. 
Mas se as suas raízes remontam ao tempo dos amores de Dom Pedro I e de Inês de Castro, o certo é que a História não se esqueceu da Malveira.



Aquando as invasões francesas, em 1809, o marechal Soult, comandante das tropas anglo-portuguesas, decide, para proteger Lisboa, criar linhas defensivas, que não eram mais do que fortalezas localizadas estrategicamente no cimo de elevações, que vieram a ficar conhecidas como as Linhas de Torres Vedras. 
Sendo que na Malveira foram construídos quatro redutos defensivos: o Forte de Santa Maria, o Forte do Matoutinho, o Forte do Cabeço Gordo e o Forte da Feira. Mais tarde, a 25 de Março de 1783, nasce a feira da Malveira e nos finais do século XIX o Caminho-de-ferro chega à localidade, contribuindo grandemente para o seu desenvolvimento. 

Já no século XX, em 1934, assiste-se à inauguração do Matadouro Municipal, da Casa do Povo e da electricidade em 1985 é-lhe atribuído o título de vila. 
Porém, a história desta povoação não fica por aqui e uns anos depois, mais precisamente em 1989, a Malveira assiste a um acontecimento, que acaba por se transformar num ritual, assegurando, assim, a sua continuidade até aos dias de hoje.



Desde 1989, que em Agosto a vila abre as portas da Fexpomalveira, que se realiza na mata paroquial, a todos aqueles que a queiram visitar. Um certame que abrange várias áreas como a agro-pecuária, a indústria, o comércio e o artesanato e que este ano será a sua XIX edição. 
«Quando arrancamos com a organização da iniciativa estávamos a menos de um mês da data que pretendíamos, que era 15 de Agosto, data da padroeira da Malveira», revela Eurico Esteves, veterinário e um dos fundadores. Mas, continua o responsável, «conseguimos num curto espaço de tempo montar a primeira Fexpomalveira e, inclusive, desbravar a mata, que na altura estava pouco explorada e grande parte da população nunca tinha ido àquela zona». 
Um feito conseguido graças à ajuda de «muita gente que rodeou a comissão organizadora», da qual faziam parte Ernesto Ramalheiro, Manuel Luís Castelo, José Bizarro Duarte, José António Brito. Ernesto João Tomás e Eurico Esteves. «Podemos considerar estes seis elementos como os mentores da Fexpomalveira», avança o veterinário, salientando que, «no entanto, não podemos falar só nestes seis nomes porque houve muita gente a envolver-se no projecto».


No fundo, a Fexpomalveira nasce da necessidade do presidente do Atlético Clube da Malveira da época, Ernesto Ramalheiro, de organizar um evento que lhe garantisse algum dinheiro para o sustento do clube. «A ideia foi fazer uma festa na terra, pois na Malveira não havia festejos da vila há quase 20 anos, ou seja, desde as festas do Barrete Preto», esclarece o impulsionador, dizendo que estas incluíam «bandas filarmónicas, várias largadas de touros no largo da feira e arraiais». 


Querendo que a festa fugisse à banalidade do que existia, os elementos da comissão organizadora pretendiam que o evento fosse, ao mesmo tempo, «uma feira, uma festa e uma exposição», conta Eurico Esteves.



E é exactamente desta vontade dos seus fundadores que advém o nome “Fexpomalveira”. «Tentámos dar um cunho diferente e foi então que resolvemos introduzir uma exposição de gado», declara o veterinário, justificando que «na altura isto não era fácil, dado que havia determinadas doenças que dificultavam levar a cabo estas mostras, lembro-me, por exemplo, de uns surtos de brucelose». Considerando esta façanha «um marco», o organizador explica que a «exposição de gado acabou por dinamizar o certame e atribuir-lhe, dentro do concelho, uma especificidade que a torna sui generis neste aspecto», e, continua, «foi logo um êxito, visto que os próprios produtores e criadores aderiram muito bem».

Aliás, ao longo das várias edições, os animais têm sido protagonistas de algumas peripécias, desde a fuga de vários deles a «um bovino que era, realmente, muito grande, que fez instalar o pânico porque se soltou», relata Eurico Esteves. O boi, que era «extremamente pachorrento», ao coçar-se partiu a vedação e resolveu passear pelo certame, causando uma onda de medo, o que levou «toda a gente a fugir, sendo que muitos nem sequer sabiam o que realmente estava a acontecer e porque estavam em fuga». Mas esta é apenas uma, de entre muitas, histórias caricatas das várias edições da Fexpomalveira, o membro da primeira comissão organizadora relembra ainda episódios de «espectáculos marcados que não aconteciam». Nestas situações era necessário recorrer à improvisação. 
«Na primeira edição tivemos de improvisar muito devido ao pouco tempo de que dispúnhamos», declara Eurico Esteves, contando que «tinham decorrido as marchas populares e fui ter com as responsáveis e pedi-lhes para as transformar num rancho e foi assim que surgiu o Sancho Folclórico da Malveira, exactamente a partir da primeira Fexpomalveira».



A Feira


Hoje, o mercado da Malveira conserva uma grande popularidade na região oeste, aqui encontra-se todo o tipo de produtos, desde ferramentas a calçado e vestuário, passando por mobílias, antiguidades, animais, peixe fresco, legumes, flores e tudo o mais que se possa imaginar.



FORTE


A Malveira nas Linhas de Torres
Para proteger Lisboa da 3ª Invasão Napoleónica, as forças anglo-lusas estabeleceram em torno da capital do reino um sistema defensivo estruturado que incluía duas linhas defensivas ligando o Oceano Atlântico ao Rio Tejo, num total de 152 obras militares edificadas entre 1809 e 1811.
O Forte da Feira encontra-se inserido na segunda Linha Defensiva, integrando-se num núcleo das Linhas onde se regista um dos mais elevados número de redutos, posicionados para defender as estradas Torres – Lisboa; Mafra – Lisboa.

GASTRONOMIA
Mão de vaca com grão

Há quem diga que a receita tem origem ribatejana e eu respeito a opinião. Talvez tenha imigrado para a Malveira pois desde que me lembro, e esta recordação vem dos anos cinquenta do século passado, era um dos pratos que, pelo menos nos dias de feira, faziam parte da ementa de todas as tabernas da Malveira.
Se imigrou, tornou-se uma ementa adoptiva da nossa terra e, por isso, aqui apresentada. Chamavam-lhe “Meia-unha” pois era servida metade da mão de vaca em cada dose e, como sobrava sempre quantidade significativa das doses servidas, as cozinheiras passaram a retirar, após a cozedura e antes de guisar, parte da unidade – junto aos ossos – confeccionando de modo semelhante e passando a chamar-lhe “roubada”. Entende-se porquê!

Era uma forma de melhorar o rendimento …sem prejudicar os clientes.
Como o nome era agressivo, passaram, posteriormente a chamar-lhe jardineira.

Ingredientes
  • 1 mão de vaca
  • 1 chouriço de carne
  • 2 cebolas grandes picadas
  • 4 dentes de alho picados
  • 2 cenouras
  • 2 folhas de louro
  • 500 gr de grão de bico seco
  • 6 c.s. de azeite de boa qualidade (virgem)
  • 1 ramo de salsa
  • 3 ou 4 tomates maduros
  • 1 dl de vinho branco
  • Sumo de limão, sal e molho picante (de preferência confeccionado em casa com bom azeite e malaguetas “compradas na feira da Malveira”)
Preparação:

1.  De véspera, deixa-se o grão a demolhar em água,
2.   lava-se e raspa-se muito bem a mão de vaca para retirar algum pelo que ainda exista e esfrega-se bem com sal e limão.
3.  Coze-se o grão em água com um pouco de azeite e temperado de sal (entre 20m e 30m se for em panela de pressão) e, separadamente, a mão de vaca dividida em duas, em água temperada com sal (entre 45m e 1h se for em panela de pressão).
4.  Refogam-se as cebolas e alhos picados em azeite bem como os tomates cortados em cubos (de preferência pelados e sem sementes).
Juntam-se as cenouras cortadas às rodelas, o chouriço de carne cortado do mesmo modo, a salsa e as folhas de louro.
5.  Deixa-se apurar e junta-se a mão de vaca, rega-se com o vinho branco e um pouco do caldo de cozer o grão (se necessário adicionar mais caldo em função da consistência do molho).
6.  Pode juntar-se um pouco de molho picante conforme o gosto.
Pode ser acompanhado com arroz branco (opcional)


Pudim de ovos

receita divulgada de seguida foi publicada no volume 3 de “Cozinha Regional Portuguesa” – são 4 volumes – cuja autoria é de Maria Odette Cortes Valente que fez uma recolha enorme de receitas tradicionais (não apenas doçaria), algumas delas já quase perdidas, através de investigação em inúmeras terras de todo o país.
Esta receita corresponde, na íntegra a uma que me foi pessoalmente oferecida por alguém que realizou investigação gastronómica no concelho de Mafra e que, na altura, me pediu sigilo sobre o seu nome.
Ingredientes:
  • 6 ovos
  • 2 laranjas (sumo e raspa da casca)
  • 1 limão (sumo e raspa da casca)
  • 375 g de açúcar
  • 25 g de farinha
  • 25 g de manteiga
  • Caramelo
Preparação:
1.  Mexer os ovos, ligeiramente, para ligarem.
2.  À parte mistura-se o açúcar, a farinha, a manteiga derretida, o sumo e a casca ralada das laranjas e limão.
3.  Juntam-se os dois preparados anteriores envolvendo bem.
4.  Deita-se a mistura numa forma (pode ser de bolo inglês) untada com manteiga e polvilhada com farinha. Opcionalmente pode ser com caramelo (minha preferência).
5.  Deixar cozer mas sem secar (mais ou menos 20 minutos a 200ºc).
Deixar arrefecer um bocado dentro da forma, despegar de lado com uma faca e desenformar em prato.

 


 









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